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O fundo do poço sempre pode ser mais fundo...

O último ano me colocou numa situação na qual toda vez que parecia que estava saindo do buraco algo, alguma lembrança me puxava de volta. De início achei que eu só precisava de férias, mas com o tempo percebi que meu cansaço, estresse e desânimo eram mais que apenas isso. Procurei terapia, tentei entender e no meio de tudo isso o baque, meu pai também já não estava mais aqui. O que parecia uma fase ruim, se tornou aquele poço que parece que a gente só se afunda mais e mais. 

Foram algumas semanas de sofrimento pra nós, ele indo e voltando do hospital sem um diagnóstico consistente e quando enfim o diagnóstico foi feito as noites no hospital, a esperança da melhora e na sexta-feira a notícia de que ele tinha tido um rompimento no intestino e ido pra uma cirurgia de emergência... Segue-se UTI pra acompanhamento, mais uma esperança no sábado, afinal, ele estava ótimo, a ligação no domingo pela manhã dizendo que dificilmente ele chegaria no horário da visita, mas mais uma vez ele surpreendeu e se estabilizou, mas o que se seguiu daí foram só mais 2 dias de expectativa... Voltei pra minha casa pois precisava cumprir meus compromissos, coisas que ninguém entendia. Mas eu só não podia ficar parada lá sem ter como ajudar e sem conseguir me acalmar... Eu precisava da minha rotina!

E aí a ausência de notícias pós horário da visita já era tudo que eu precisava saber. Liguei pra minha irmã, confirmei o que eu não gostaria nunca de confirmar e saí sem falar nada com ninguém no trabalho porque eu sabia que se parasse para falar com alguém eu não teria forças pra percorrer os 300km que eu precisava. Nunca pensei que eu tivesse tanta força, mas eu consegui chegar lá sem desabar e só desabei quando cheguei no velório e abracei meu irmão, ali eu me permiti chorar tudo que eu não tinha podido até então, ali eu me permiti sofrer. Mas até hoje parece que eu não sofri o que precisava e vez ou outra um aperto no coração me aflige.

É uma sensação horrível não ter nem meu pai nem minha mãe por aqui aos 31 anos, sinto que uma parte de mim se foi bem antes do que seria aceitável (se é que algum dia consideraríamos aceitável). Penso que se um dia eu tiver filhos eles nunca conhecerão os avós, que eu sei que amariam conhecer e mimá-los, sei que se um dia eu me casar não vou ter meu pai pra me acompanhar até o altar, e mesmo que eu não seja do tipo que sonhe com o casamento eu não queria não ter o poder dessa escolha.

Eu estava em uma fase mais positiva, me encontrando novamente no profissional, tentando encontrar a Crislei pra além do trabalho que se perdeu nos anos de pandemia, mas essa semana tá doída! Meu pai sempre amou comemorar aniversário, ter a casa cheia, mesa farta e bons amigos que cultivou ao longo da vida. E esse vai ser o primeiro ano sem ter ele, sem a voz de trovão ouvida da outra esquina que poderiam jurar ser uma briga, mas nunca era... Ou a risada exagerada da minha mãe que ocasionalmente era precedida por uma de suas famosas chuveiradas de cerveja em quem quer que estivesse à sua frente.

Eu só queria que nada disso fosse real e eu pudesse encontrar ele na sexta-feira cortando os ingredientes do seu famoso vinagrete enquanto minha mãe estaria sentada na mesa da varanda vigiando a vida alheia.

Enfim, eu só me sinto incompleta... e o poço que eu entrei parece impossível de escalar.


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