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A sede da chegada ou o prazer da jornada?

Nessas idas e vindas da vida a gente se esquece do que nos faz bem, das coisas pelas quais passamos e escrever nos faz voltar no tempo, neste caso uma imagem não fala mais que mil palavras. Relendo alguns posts perdidos neste e em outros blogs pude reviver momentos e sentimentos pelos quais passei. textos saltaram nos meus olhos me mostrando que viver é mais do que acumular, escrever é ter a possibilidade de reviver e só o tempo cura.

Os últimos anos não foram os melhores para ninguém, fazer parte de um acontecimento histórico não estava nos nossos planos e a pandemia nos mostrou mais do que nunca que a vida é um sopro. Quero voltar a escrever e ter a possibilidade de no futuro poder ler tudo e dizer: Crislei, você conseguiu! Conseguiu o que? Não sei, talvez uma carreira incrível, uma família unida, talvez um passaporte recheado de carimbos ou apenas sobreviver a todas as intempéries que a vida ainda me apresentará.

Sigo escrevendo sem costurar ideias, apenas deixando fluir tudo pelos dedos que parecem sedentos por contar uma história que ainda não foi vivida. Esse possivelmente sendo nosso maior mal, querer viver logo o amanhã, o final de semana, as férias e não ver tudo de bom que aconteceu ou tem acontecido. Precisamos de pequenos prazeres diários para nos mostrar como viver é ótimo, como vale a pena levantar todos os dias e como o trajeto é bonito.

Recentemente conheci um poema de Konstantino Kavafis, graças a meu chefe, chamado Ítaca que nos diz exatamente isso. Aproveite a jornada! O final pode não ser tão surpreendente, mas o caminho com certeza será.


"Quando saíres a caminho de Ítaca,
faz votos para que seja longo o caminho,
cheio de aventuras, cheio de conhecimentos.
Os Lestrígones e os Ciclopes,
o zangado Poseidon não temas,
coisas assim no teu caminho não acharás nunca,
se o teu pensamento permanecer elevado, se emoção
requintada o teu espírito e o teu corpo tocar.
Os Lestrígones e os Ciclopes,
o selvagem Poseidon não encontrarás,
se com eles não carregares na tua alma,
se a tua alma não os colocar à tua frente.
Faz votos para que seja longo o caminho.
Para que sejam muitas as manhãs de verão
nas quais com que contentamento, com que alegria
entrarás em portos vistos pela primeira vez;
para que páres em feitorias fenícias,
e para que adquiras as boas compras
coisas de nácar e coral, de âmbar e de ébano,
e essências de prazer de qualquer espécie,
as mais abundantes que puderes;
para que vás a muitas cidades egípcias,
para que aprendas e aprendas com os letrados.
Deves ter sempre Ítaca na tua mente.
A chegada ali é o teu destino.
Mas não apresses em nada a tua viagem.
É melhor durar muitos anos;
e já velho fundeares na ilha,
rico do que ganhaste no caminho,
sem esperares que te dê Ítaca riquezas.
Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem Ítaca não terias saído ao caminho.
Agora, já nada tem para te dar.
E se um tanto pobre a encontrares, Ítaca não te enganou.
Sábio como te tornaste, com tanta experiência,
já compreenderás o que significam Ítacas."

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